9 de novembro de 2010

A FILOSOFIA DA LINGUAGEM EM WITTGENSTEIN
A FILOSOFIA DA LINGUAGEM EM WITTGENSTEIN
Robson Stigar
Introdução
Segundo Wittgenstein Russell não havia explicitado suficiente o tema da lógica. Este reconhecimento se dá por não conseguir reconhecer em Russell adequada explicação da necessidade lógica e acreditou que a única maneira de chegar a essa explicação seria remontar aos primórdios da lógica. O método utilizado seria o de examinar a fonte através da natureza essencial das proposições.
De modo algum, pelo menos inicialmente, podemos ver alguma relação com a filosofia kantiana ou com a linguagem de modo amplo; aqui a questão é a sustentação do modo de relação da linguagem com o mundo e com o indivíduo, e a conexão com a filosofia crítica de Kant.
O Pensamento de Wittgenstein no Século XX
A questão do reconhecimento do limite, no caso da linguagem, é por si "a Priori", como fato necessário para seu desenvolvimento. Sem esta determinação não se possibilitaria um pleno desenvolvimento do conteúdo da linguagem além do seu limite conhecido; pelo menos neste caso não se correria o risco de devaneios por falta de uma metodologia, por ser pragmática o bastante para não permitir inverdades.
Existe em Wittgenstein o limite da linguagem, onde a partir daí não se pode falar, do mesmo modo que existe o limite do conhecimento. Neste dois pontos o Tractatus logico-Philosophicus e a Crítica da Razão Pura possuem estruturas muito semelhantes, estrutura esta que se perpetua nas Investigações Filosóficas, porém de modo diferenciado. A crítica ao pensamento, de forma indireta, é feita através da linguagem.
A primeira necessidade em Wittgenstein é lógica, pois é a partir dela que podemos compreender e identificar a estrutura e o conteúdo em questão, afinal a linguagem só é útil se tem sentido. Wittgenstein tem como caráter "a Priori" conceitos verdadeiros que possibilitam "todo conhecimento admite uma causa" (PEARS, 1973, p. 48).
Segundo Wittgenstein, tanto lógica como a linguagem possuem características universais. A linguagem como tal possui também uma estrutura para assim ser designada. A universalidade prescinde de sua inefabilidade, isto é, ter presente em todos os seus momentos a sua inefabilidade semântica. Esta inefabilidade é fundamentada na crença da linguagem como algo não só preciso, como também de outros inúmeros contextos. Aí é que surge um dos pontos mais complexos da teoria da linguagem em Wittgenstein. Estas relações da linguagem como universal não são exprimíveis.
Para Wittgenstein o conceito de jogos de linguagem significa a clara visão e "radical" ligação entre mundo e linguagem. Lembrando que esta ligação não pode ser expressa na linguagem. Neste conceito esta explicito o sentido público da linguagem.
O mundo vivia envolto em experiências com poucas comprovações. Talvez isso viesse a afirmar ou confirmar para alguns estudiosos que o conhecimento só se daria por meio da investigação cientifica. No entanto continuou a existir aqueles que acreditavam que há certas coisas as quais existem mesmo não podem ser ditas de maneira significativa, por meio de experiência, elas ainda assim se mostram a si mesma.
Os filósofos e cientistas que formavam o grupo de Viena, depois denominado Círculo de Viena eram tidos como Positivistas Lógicos ou Neo positivistas. Estes inspirados em teorias como a da Relatividade de Einstein, consideram que as únicas proposições que tem significado são aquelas cuja verdade pode ser investigada pela ciência natural, e consideravam a metafísica um absurdo, logo desenvolveram o teste de comprovação do significado, segundo o qual uma oração tem sentido apenas se nossas experiências forneceram indícios a favor ou contra a afirmação de que a oração é verdadeira, logo, dentro dessa estrutura, os discursos da ética e da religião não teriam significado.
Disso Wittgenstein não discorda, porque proposições significativas seriam como que fotos de fatos ou arranjos de nomes. Está certo que não haveria fatos a serem retratados no caso dos discursos éticos ou religiosos. Mas ao contrario dos filósofos do Circulo de Viena, Wittgenstein afirma ter passado por experiências místicas. Uma delas foi o sentimento de assombro total ante o fato de que alguma coisa existe em lugar do nada, embora a ética e a religião não pudesse ser escritas, se manifestam por si mesmas.
Em Wittgenstein a figuração não se trata de uma imagem natural, uma cópia simples do real, mas de uma relação abstrata e complicada, ou seja, uma isomorfia. A realidade e a imagem que dela é formulada se correspondem enquanto estrutura, onde ambas descrevem o mundo de maneira completa, como é explicado na proposição 2.11: "A imagem apresenta a situação no espaço lógico, a subsistência e a não-subsistência de estados de coisas" e 2.12: "A figuração é um modelo da realidade" (Wittgenstein, 1968, p.35).
Os elementos que formam a proposição se tornam figuração da realidade, sendo que de forma lógica é fator essencial para a "Teoria da Configuração”, embora o nome isolado não seja figuração do objeto, existindo só no contexto da proposição. A linguagem estabelece uma perfeita simetria com o mundo, como é argumentado na proposição 4.02: "A proposição é uma imagem da realidade, pois conhece-se a situação representada por ela quando entendo a proposição. E entendo a proposição sem que o sentido me seja explicado".(Wittgenstein, 1968,p.55).
Wittgenstein também apresenta, a priori, a forma lógica como o fator de correspondência entre o mundo e a figuração, ficando clara esta apresentação na proposição 2.18: "o que cada imagem, de forma qualquer, deve sempre ter em comum com a realidade para afigurá-la em geral – correta ou falsamente – é a forma lógica, isto é, a forma da realidade"(Wittgenstein, 1968, p.37).
Wittgenstein estabelece uma função única para a linguagem, que é a função descritiva, aspecto que retornará de modo contrario, mais tarde, nas "Investigações Filosóficas", onde negará a existência de uma função primordial e única para a linguagem.
De maneira geral, a produção do Tractatus deu-se na tentativa de Wittgenstein estabelecer a resolução dos questionamentos e problemas da filosofia a partir da resolução dos problemas da linguagem, como é colocado pelo próprio Wittgenstein. "No Tractatus, a concepção da linguagem se mostra numa teoria figurativa da proposição, constituindo um retrato lógico da realidade. Em um empreendimento que recorda Kant, Wittgenstein parte do factum da linguagem para determinar os limites do que pode ser expresso. É, sem dúvida um fato inquestionável que a linguagem, assim como o pensamento, constitui a natureza universal e privada dos seres humanos. De outro modo, a linguagem responde pela realidade, sendo sua função descrever os fatos" (Valle, 1999,p.72).
Foram estes limites traçados por Wittgenstein à linguagem, interpretados sob um ponto de vista empirista. O positivismo lógico do Círculo de Viena, que naturalmente, via de fato, simplesmente deixou de lado o aspecto do silêncio e do místico do Tractatus, e que se constitui não somente como uma reflexão simples sobre a linguagem e sobre a lógica, mas como uma condição essencial para refletir sobreo ser e sobre a realidade.
Ao separar ciência e vida, o autor do Tractatus, de modo algum, fez a afirmação de que tenha negado a existência ou a realidade da mesma e sim afirmou que a ciência é clara e a vida não é, que a metafísica pertence à vida.
Por isso Wittgenstein rejeitou a metafísica como sistema filosófico. Em suma, a linguagem se constituindo conjunto de formas lógicas proporcionais possíveis de representação dos fatos. O autor considera o mundo e a linguagem como sendo manifestação da forma lógica numa perfeita simetria.
O objetivo principal da reflexão de Wittgenstein, e que ele apresenta no Tractatus constitui uma solução, eram os problemas da lógica ou, mais precisamente, de filosofia da lógica. 'O problema central do Tractatus é aquele que reflete sobre a natureza da lógica"(Valle,1999, p.67).
Em sua tese doutoral o professor Bortolo Valle deixa claro a tese fundamental do Tractatus, "se a linguagem pode figurar a realidade é porque compartilham a mesma forma lógica".
A Linguagem nas Investigações Filosóficas
A linguagem nas investigações filosóficas diferentemente do Tractatus, não estabelece uma tentativa de esclarecer o que é obscurecido pela linguagem, mas perceber a maneira do funcionamento da imagem, tomando uma postura eminentemente prática perante a linguagem e não mais uma atitude lógica.
A exemplo do Tractatus, as Investigações não se constitui em obra sistemática, referindo-se ao tipo de produção na filosofia ocidental.Wittgenstein deixa de lado a teoria estrutural entre a linguagem e realidade e defende que a linguagem deve ser utilizável e funcional, e para tanto, a relação entre nome e coisa não é suficiente. Existem muitos significados na linguagem e muitos modos de aplica-la na vida cotidiana. Há uma infinidade de "jogos de linguagem", cada um justificando-se dentro da situação em que o ser humano utiliza podemos pegar o exemplo da seguinte afirmação: "Traga-me uma chave estrela" (GOMES, 1995, p.26).
No entanto, isso não rompe a comunicação entre o mecânico e o ajudante, pois não pertence a linguagem descritiva, onde estas palavras não são nomes isolados, mas são ações humanas nas quais a linguagem torna-se uma maneira de ação, esta é a concepção funcional da linguagem presente nas Investigações, diferente da concepção substancial do significação presente no Tractatus.
Nas Investigações, Wittgenstein busca a compreensão dos fatos conhecidos e, percebe os casos que representam problemas a partir dos casos não-problemáticos. Este trecho encontra-se nos parágrafos 89 e 109, das Investigações Filosóficas.
Por existir numerosos jogos de linguagem, não há como unificar a linguagem a partir de uma única estrutura lógica e formal, pois esta atividade que chamamos de linguagem ocorre em vários contextos de ação e faz parte de diferentes maneiras de vida, havendo, portando, tantas linguagens quanto a formas de vida.
Temas éticos, estéticos e religiosos, se situam fora do mundo, fora dos limites do discurso significativo e, logo, fora das possibilidades de nossas investigações cientificas, forneceram indícios de terem significado. No entanto, o Tractatus, não quer calar-se diante destas questões.
Conclusão
Wittgnstein dedica uma breve parte de sua obra para tratar também desses três temas: Deus, Felicidade e Morte. E é de considerar que com certeza esses problemas afetam nossas vidas quotidianamente. No caso de Wittgenstein, a morte é um tema presente, lembrando o suicídio de seus irmãos.
Bibliografia
Wittgenstein, Ludwig. Investigações filosóficas. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
Wittgenstein, Ludwig.Estética, psicologia e religião. São Paulo: Cultrix, 1970.
Wittgenstein, Ludwig. Tractatus logico-philosophicus. São Paulo: Nacional, 1968.
Wittgenstein, Ludwig. Tractatus logico-philosophicus.2.ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1994.
Zilles, Urbano. O racional e o místico em Wittgenstein. 2.ed. Porto Alegre: Edipucrs, 1994.Coleção Filosofia 11.
Ao usar este artigo, mantenha os links e faça referência ao autor:
A Filosofia Da Linguagem Em Wittgenstein publicado 19/05/2008 por Robson Stigar em http://www.webartigos.com

1 de novembro de 2010

Existencialismo e Educação (Na perspectiva de Jean-Paul Sartre)
Para o existencialismo a essência humana se constrói na existência concreta. O homem nasce sem essência, e somente depois, a partir de sua existência, irá construir sua essência como homem. Esta essência dependerá da decisão que o homem tomará. Poderá ele acomodar-se com os fatos, não correr o risco da liberdade, e assim deixar-se tragar pela massa insossa constituída por todos os outros, e assim perder sua identidade, assumindo a moral do rebanho. Será então o inautêntico, o nojento, repleto de vícios, o homem de "má-fé" que existe como coisa, pois não teve coragem para assumir o risco da liberdade.
Ou então, o homem poderá assumir o verdadeiro risco da liberdade. Assim enfrentará o nada, e a possibilidade da morte, que o fará inicialmente sentir-se angustiado perante o fato de que a morte seja o fim de todos os projetos e possibilidades, mas depois de encarado tal desafio, ele finalmente se tornará autêntico, construindo sua essência como ser humano.
Assim, para o existencialista, a educação verdadeira é aquela que possibilita o homem a construção de sua essência a partir da liberdade. A educação deve transformar o homem em ser autêntico, e não em apenas mais um no rebanho. Portanto a educação como impositora de normas para a reprodução do sistema não serve para o existencialismo, pois transforma o homem em inautêntico, já que o ensina a respeitar a moral da aceitação e da submissão.
A educação, então, deverá libertar o homem das amarras, permitir a ele que se construa como homem dentro do processo histórico, sem que seja condicionado por forças que lhe vendam os olhos e que lhe impeça de construir sua existência/essência.
O homem existencialista é o homem da luta, da coragem, que não tem medo do terrível desafio que a liberdade lhe impõe com todo o risco de solidão e angústia. A educação deve levar o homem a enfrentar este risco. Aliás, a educação não deve levar o homem, pois ele deverá conduzir-se a isso. A educação então deverá lhe abrir a possibilidade, talvez lhe mostrar o caminho. E isto só é possível através de uma educação libertadora em todos os sentidos. Esta educação deverá também mostrar ao homem que a sua liberdade está estritamente vinculada à responsabilidade pois o ato responsável do homem também é o ato responsável por toda a humanidade.
Site UFRGS acesso 01/11/2010