9 de novembro de 2010

A FILOSOFIA DA LINGUAGEM EM WITTGENSTEIN
A FILOSOFIA DA LINGUAGEM EM WITTGENSTEIN
Robson Stigar
Introdução
Segundo Wittgenstein Russell não havia explicitado suficiente o tema da lógica. Este reconhecimento se dá por não conseguir reconhecer em Russell adequada explicação da necessidade lógica e acreditou que a única maneira de chegar a essa explicação seria remontar aos primórdios da lógica. O método utilizado seria o de examinar a fonte através da natureza essencial das proposições.
De modo algum, pelo menos inicialmente, podemos ver alguma relação com a filosofia kantiana ou com a linguagem de modo amplo; aqui a questão é a sustentação do modo de relação da linguagem com o mundo e com o indivíduo, e a conexão com a filosofia crítica de Kant.
O Pensamento de Wittgenstein no Século XX
A questão do reconhecimento do limite, no caso da linguagem, é por si "a Priori", como fato necessário para seu desenvolvimento. Sem esta determinação não se possibilitaria um pleno desenvolvimento do conteúdo da linguagem além do seu limite conhecido; pelo menos neste caso não se correria o risco de devaneios por falta de uma metodologia, por ser pragmática o bastante para não permitir inverdades.
Existe em Wittgenstein o limite da linguagem, onde a partir daí não se pode falar, do mesmo modo que existe o limite do conhecimento. Neste dois pontos o Tractatus logico-Philosophicus e a Crítica da Razão Pura possuem estruturas muito semelhantes, estrutura esta que se perpetua nas Investigações Filosóficas, porém de modo diferenciado. A crítica ao pensamento, de forma indireta, é feita através da linguagem.
A primeira necessidade em Wittgenstein é lógica, pois é a partir dela que podemos compreender e identificar a estrutura e o conteúdo em questão, afinal a linguagem só é útil se tem sentido. Wittgenstein tem como caráter "a Priori" conceitos verdadeiros que possibilitam "todo conhecimento admite uma causa" (PEARS, 1973, p. 48).
Segundo Wittgenstein, tanto lógica como a linguagem possuem características universais. A linguagem como tal possui também uma estrutura para assim ser designada. A universalidade prescinde de sua inefabilidade, isto é, ter presente em todos os seus momentos a sua inefabilidade semântica. Esta inefabilidade é fundamentada na crença da linguagem como algo não só preciso, como também de outros inúmeros contextos. Aí é que surge um dos pontos mais complexos da teoria da linguagem em Wittgenstein. Estas relações da linguagem como universal não são exprimíveis.
Para Wittgenstein o conceito de jogos de linguagem significa a clara visão e "radical" ligação entre mundo e linguagem. Lembrando que esta ligação não pode ser expressa na linguagem. Neste conceito esta explicito o sentido público da linguagem.
O mundo vivia envolto em experiências com poucas comprovações. Talvez isso viesse a afirmar ou confirmar para alguns estudiosos que o conhecimento só se daria por meio da investigação cientifica. No entanto continuou a existir aqueles que acreditavam que há certas coisas as quais existem mesmo não podem ser ditas de maneira significativa, por meio de experiência, elas ainda assim se mostram a si mesma.
Os filósofos e cientistas que formavam o grupo de Viena, depois denominado Círculo de Viena eram tidos como Positivistas Lógicos ou Neo positivistas. Estes inspirados em teorias como a da Relatividade de Einstein, consideram que as únicas proposições que tem significado são aquelas cuja verdade pode ser investigada pela ciência natural, e consideravam a metafísica um absurdo, logo desenvolveram o teste de comprovação do significado, segundo o qual uma oração tem sentido apenas se nossas experiências forneceram indícios a favor ou contra a afirmação de que a oração é verdadeira, logo, dentro dessa estrutura, os discursos da ética e da religião não teriam significado.
Disso Wittgenstein não discorda, porque proposições significativas seriam como que fotos de fatos ou arranjos de nomes. Está certo que não haveria fatos a serem retratados no caso dos discursos éticos ou religiosos. Mas ao contrario dos filósofos do Circulo de Viena, Wittgenstein afirma ter passado por experiências místicas. Uma delas foi o sentimento de assombro total ante o fato de que alguma coisa existe em lugar do nada, embora a ética e a religião não pudesse ser escritas, se manifestam por si mesmas.
Em Wittgenstein a figuração não se trata de uma imagem natural, uma cópia simples do real, mas de uma relação abstrata e complicada, ou seja, uma isomorfia. A realidade e a imagem que dela é formulada se correspondem enquanto estrutura, onde ambas descrevem o mundo de maneira completa, como é explicado na proposição 2.11: "A imagem apresenta a situação no espaço lógico, a subsistência e a não-subsistência de estados de coisas" e 2.12: "A figuração é um modelo da realidade" (Wittgenstein, 1968, p.35).
Os elementos que formam a proposição se tornam figuração da realidade, sendo que de forma lógica é fator essencial para a "Teoria da Configuração”, embora o nome isolado não seja figuração do objeto, existindo só no contexto da proposição. A linguagem estabelece uma perfeita simetria com o mundo, como é argumentado na proposição 4.02: "A proposição é uma imagem da realidade, pois conhece-se a situação representada por ela quando entendo a proposição. E entendo a proposição sem que o sentido me seja explicado".(Wittgenstein, 1968,p.55).
Wittgenstein também apresenta, a priori, a forma lógica como o fator de correspondência entre o mundo e a figuração, ficando clara esta apresentação na proposição 2.18: "o que cada imagem, de forma qualquer, deve sempre ter em comum com a realidade para afigurá-la em geral – correta ou falsamente – é a forma lógica, isto é, a forma da realidade"(Wittgenstein, 1968, p.37).
Wittgenstein estabelece uma função única para a linguagem, que é a função descritiva, aspecto que retornará de modo contrario, mais tarde, nas "Investigações Filosóficas", onde negará a existência de uma função primordial e única para a linguagem.
De maneira geral, a produção do Tractatus deu-se na tentativa de Wittgenstein estabelecer a resolução dos questionamentos e problemas da filosofia a partir da resolução dos problemas da linguagem, como é colocado pelo próprio Wittgenstein. "No Tractatus, a concepção da linguagem se mostra numa teoria figurativa da proposição, constituindo um retrato lógico da realidade. Em um empreendimento que recorda Kant, Wittgenstein parte do factum da linguagem para determinar os limites do que pode ser expresso. É, sem dúvida um fato inquestionável que a linguagem, assim como o pensamento, constitui a natureza universal e privada dos seres humanos. De outro modo, a linguagem responde pela realidade, sendo sua função descrever os fatos" (Valle, 1999,p.72).
Foram estes limites traçados por Wittgenstein à linguagem, interpretados sob um ponto de vista empirista. O positivismo lógico do Círculo de Viena, que naturalmente, via de fato, simplesmente deixou de lado o aspecto do silêncio e do místico do Tractatus, e que se constitui não somente como uma reflexão simples sobre a linguagem e sobre a lógica, mas como uma condição essencial para refletir sobreo ser e sobre a realidade.
Ao separar ciência e vida, o autor do Tractatus, de modo algum, fez a afirmação de que tenha negado a existência ou a realidade da mesma e sim afirmou que a ciência é clara e a vida não é, que a metafísica pertence à vida.
Por isso Wittgenstein rejeitou a metafísica como sistema filosófico. Em suma, a linguagem se constituindo conjunto de formas lógicas proporcionais possíveis de representação dos fatos. O autor considera o mundo e a linguagem como sendo manifestação da forma lógica numa perfeita simetria.
O objetivo principal da reflexão de Wittgenstein, e que ele apresenta no Tractatus constitui uma solução, eram os problemas da lógica ou, mais precisamente, de filosofia da lógica. 'O problema central do Tractatus é aquele que reflete sobre a natureza da lógica"(Valle,1999, p.67).
Em sua tese doutoral o professor Bortolo Valle deixa claro a tese fundamental do Tractatus, "se a linguagem pode figurar a realidade é porque compartilham a mesma forma lógica".
A Linguagem nas Investigações Filosóficas
A linguagem nas investigações filosóficas diferentemente do Tractatus, não estabelece uma tentativa de esclarecer o que é obscurecido pela linguagem, mas perceber a maneira do funcionamento da imagem, tomando uma postura eminentemente prática perante a linguagem e não mais uma atitude lógica.
A exemplo do Tractatus, as Investigações não se constitui em obra sistemática, referindo-se ao tipo de produção na filosofia ocidental.Wittgenstein deixa de lado a teoria estrutural entre a linguagem e realidade e defende que a linguagem deve ser utilizável e funcional, e para tanto, a relação entre nome e coisa não é suficiente. Existem muitos significados na linguagem e muitos modos de aplica-la na vida cotidiana. Há uma infinidade de "jogos de linguagem", cada um justificando-se dentro da situação em que o ser humano utiliza podemos pegar o exemplo da seguinte afirmação: "Traga-me uma chave estrela" (GOMES, 1995, p.26).
No entanto, isso não rompe a comunicação entre o mecânico e o ajudante, pois não pertence a linguagem descritiva, onde estas palavras não são nomes isolados, mas são ações humanas nas quais a linguagem torna-se uma maneira de ação, esta é a concepção funcional da linguagem presente nas Investigações, diferente da concepção substancial do significação presente no Tractatus.
Nas Investigações, Wittgenstein busca a compreensão dos fatos conhecidos e, percebe os casos que representam problemas a partir dos casos não-problemáticos. Este trecho encontra-se nos parágrafos 89 e 109, das Investigações Filosóficas.
Por existir numerosos jogos de linguagem, não há como unificar a linguagem a partir de uma única estrutura lógica e formal, pois esta atividade que chamamos de linguagem ocorre em vários contextos de ação e faz parte de diferentes maneiras de vida, havendo, portando, tantas linguagens quanto a formas de vida.
Temas éticos, estéticos e religiosos, se situam fora do mundo, fora dos limites do discurso significativo e, logo, fora das possibilidades de nossas investigações cientificas, forneceram indícios de terem significado. No entanto, o Tractatus, não quer calar-se diante destas questões.
Conclusão
Wittgnstein dedica uma breve parte de sua obra para tratar também desses três temas: Deus, Felicidade e Morte. E é de considerar que com certeza esses problemas afetam nossas vidas quotidianamente. No caso de Wittgenstein, a morte é um tema presente, lembrando o suicídio de seus irmãos.
Bibliografia
Wittgenstein, Ludwig. Investigações filosóficas. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
Wittgenstein, Ludwig.Estética, psicologia e religião. São Paulo: Cultrix, 1970.
Wittgenstein, Ludwig. Tractatus logico-philosophicus. São Paulo: Nacional, 1968.
Wittgenstein, Ludwig. Tractatus logico-philosophicus.2.ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1994.
Zilles, Urbano. O racional e o místico em Wittgenstein. 2.ed. Porto Alegre: Edipucrs, 1994.Coleção Filosofia 11.
Ao usar este artigo, mantenha os links e faça referência ao autor:
A Filosofia Da Linguagem Em Wittgenstein publicado 19/05/2008 por Robson Stigar em http://www.webartigos.com

1 de novembro de 2010

Existencialismo e Educação (Na perspectiva de Jean-Paul Sartre)
Para o existencialismo a essência humana se constrói na existência concreta. O homem nasce sem essência, e somente depois, a partir de sua existência, irá construir sua essência como homem. Esta essência dependerá da decisão que o homem tomará. Poderá ele acomodar-se com os fatos, não correr o risco da liberdade, e assim deixar-se tragar pela massa insossa constituída por todos os outros, e assim perder sua identidade, assumindo a moral do rebanho. Será então o inautêntico, o nojento, repleto de vícios, o homem de "má-fé" que existe como coisa, pois não teve coragem para assumir o risco da liberdade.
Ou então, o homem poderá assumir o verdadeiro risco da liberdade. Assim enfrentará o nada, e a possibilidade da morte, que o fará inicialmente sentir-se angustiado perante o fato de que a morte seja o fim de todos os projetos e possibilidades, mas depois de encarado tal desafio, ele finalmente se tornará autêntico, construindo sua essência como ser humano.
Assim, para o existencialista, a educação verdadeira é aquela que possibilita o homem a construção de sua essência a partir da liberdade. A educação deve transformar o homem em ser autêntico, e não em apenas mais um no rebanho. Portanto a educação como impositora de normas para a reprodução do sistema não serve para o existencialismo, pois transforma o homem em inautêntico, já que o ensina a respeitar a moral da aceitação e da submissão.
A educação, então, deverá libertar o homem das amarras, permitir a ele que se construa como homem dentro do processo histórico, sem que seja condicionado por forças que lhe vendam os olhos e que lhe impeça de construir sua existência/essência.
O homem existencialista é o homem da luta, da coragem, que não tem medo do terrível desafio que a liberdade lhe impõe com todo o risco de solidão e angústia. A educação deve levar o homem a enfrentar este risco. Aliás, a educação não deve levar o homem, pois ele deverá conduzir-se a isso. A educação então deverá lhe abrir a possibilidade, talvez lhe mostrar o caminho. E isto só é possível através de uma educação libertadora em todos os sentidos. Esta educação deverá também mostrar ao homem que a sua liberdade está estritamente vinculada à responsabilidade pois o ato responsável do homem também é o ato responsável por toda a humanidade.
Site UFRGS acesso 01/11/2010

6 de outubro de 2010

O belo e o Sublime - Arthur Schopenhauer - Percepção ou insensatez?


Creio que seria correto colocar Schopenhauer ao lado de Kant, visto que, foi tão competente quanto, além de admitir que foi sua maior inspiração.
Já Nietzsche, torceu e retorceu conceitos Schopenhauerianos e criou um discurso, a meu ver, mais literário que Filosófico, além de se mostrar obcecado pelo cristianismo.
Assim, faço uma exposição da Estética de Schopenhauer, que antecipa o pensamento de Nietzsche.
E ao examinarmos a obra “O mundo como Vontade e Representação”, devemos considerar que a Ética, a Metafísica e a Estética, são, na verdade, aspectos distintos de um mesmo objeto, onde se organizam atrelados no pensamento genial de Arthur Schopenhauer.
A partir de um exame detalhado da Metafísica Shopenhauriana, entraremos no campo da ética, esclarecendo a negação da vontade de viver: o “querer-viver” é a raiz de todos os males do universo, de todo sofrimento humano e o fim ao qual tende a natureza. Entretanto, um dos modos para abordar essa “moral” é transpondo o Juízo Estético, ou seja, através da contemplação do Belo e do Sublime que atingimos a liberdade, a princípio enganosa e movida pelas paixões inconscientes, nunca saciadas. Enfim, é a busca para libertação dos efeitos deletérios do mal, inerente à existência humana.

"Através desse movimento o Gênio penetra a interioridade do mundo e nele descobre a quietude, a claridade e a serenidade da realidade ideal. Assim a contemplação da Arte, levará o sujeito a interromper o ciclo de carências e satisfações que expressam o sofrimento do mundo" ("O Mundo como Vontade e Representação", Livro III, Schopenhauer, A.).

A arte reproduz as idéias eternas apreendidas mediante essa pura contemplação, o essencial e permanente de todos os fenômenos do mundo, e conforme a matéria em que ela se reproduz, se constitui em artes plásticas, poesia ou musica. Sua única origem é o conhecimento das idéias, seu único objetivo é a comunicação deste conhecimento. Isso remete o sujeito a um sujeito destituído de Vontade, de dor, de temporalidade.
Essa contemplação Estética proporciona um conhecimento de certo modo mais direto e verdadeiro do que o conhecimento da ciência e do senso comum, pois esse conhecimento seria um conhecimento de uma representação não submetida ao principio de razão, ou seja, nem a causalidade que se refere aos fenômenos, nem as leis da lógica que regem o conhecimento racional. "A distinção entre o Belo e o Sublime é que no Belo o predomínio do conhecimento puro se exerce sem luta, a beleza do objeto, sua constituição, facilitando o conhecimento de sua idéia, afastando a vontade e o conhecimento das relações que coroam seus serviços sem oposição, e, portanto, imperceptível da consciência, que persiste como sujeito do conhecimento, destituído inclusive de toda recordação da vontade; Em contraposição, em face do sublime, este estado de conhecimento puro é conquistado primeiramente por meio de uma libertação violenta das relações do objeto com a vontade reconhecidas como desfavoráveis, por meio de uma elevação livre e consciente acima da Vontade e do conhecimento a ela referido"("O Mundo como Vontade e Representação", Livro III, Schopenhauer, A).

Nesse sentido, o Juízo Estético busca na experiência contemplativa da arte, da música e da poesia um novo modo de conhecer o mundo e, de certa forma, demonstrar a crítica ao idealismo Alemão e ao logos científico.
Alécio Marinho de Brito Junior em http://www.consciencia.org/forum/index.php?topic=2464.0

11 de julho de 2010


EDMUND HUSSERL


VIDA. Edmund Husserl, filósofo alemão fundador da Fenomenologia, um método para a descrição e análise da consciência através do qual a filosofia tenta alcançar uma condição estritamente científica. Nasceu a 8 de abril de 1859 em Prossnitz, Moravia, no então Império Austríaco, hoje Prostejov, na República Checa, e faleceu em 27 de abril a 1938 em Freiburg im Breisgau, na Alemanha. De origem judaica, completou os primeiros estudos em um ginásio público alemão, na cidade próxima, Olmütz (Olomouc), em 1876. Em seguida estudou física, matemática, astronomia e filosofia nas universidades de Leipzig, Berlim, e Vienna. Nesta última passou sua tese de doutorado em filosofia em 1882, com o tema Beiträge zur Theorie der Variationsrechnung ("Contribuição para a Teoria do cálculo de variáveis"). No outono de 1883, Husserl seguiu para Vienna para estudar com o filósofo e psicólogo Franz Brentano. Em Viena Husserl converteu-se à fé evangélica luterana e, um ano depois, em 1887, casou com Malvine Steinschneider, a filha de um professor do ensino secundário de Prossnitz. Esposa energética e competente, ela foi um indispensável apoio para Husserl até a morte dele.
Em 1886 Husserl, com uma recomendação de Brentano, procurou Carl Stumpf, o mais velho dos estudantes de Brentano, do qual se tornaria amigo íntimo, e que era professor de filosofia e psicologia na universidade de Halle. Nesta universidade Husserl passou o concurso para professor conferencista em 1887.
O tema da tese de habilitação foi Über den Begriff der Zahl: Psychologische Analysen("Sobre o conceito de número: análise psicológica"), o que mostra sua transição da pesquisa matemática para uma reflexão sobre as bases psicológicas dos conceitos básicos da matemática. A tese foi uma versão desenvolvida depois no seu Philosophie der Arithmetik: Psychologische und logische Untersuchungen, cujo primeiro volume apareceu em 1891.
O título de sua conferência inaugural em Hale, onde ensinou de 1887 a1901, foi Über die Ziele und Aufgaben der Metaphysik ("Sobre os objetivos e problemas da metafísica"). O objeto tradicional da metafísica é o estudo do Ser. O texto se perdeu, mas é provável que nele Husserl já apresentasse seu método de análise da consciência como o caminho para uma nova e universal filosofia e uma nova metafísica.

Em seu esforço de pesquisa, Husserl chegou a um extremo: anotava todos os movimentos de seu pensamento. Durante sua vida produziu mais de 40.00Para ele a base filosófica para a lógica e a matemática precisa começar com uma analise da experiência que está antes de todo pensamento formal. Isto obrigou-o a um intenso estudo dos empiristas ingleses John Locke, George Berkeley, David Hume, e John Stuart Mill, e familiarizar-se com a terminologia da lógica e semântica derivada daquela tradição, especialmente a lógica de Mill.
Essa integração de suas idéias com o pensamento empirista levou-o às concepções apresentadas em sua famosa obra Logische Untersuchungen (1900-01; "Investigações lógicas"), onde apresentou o método de análise que chamou "fenomenologico".
Após a publicação do Logische Untersuchungen, Husserl foi convidado a lecionar nauniversidade de Göttingen, onde permaneceu de 1901 a 1916.0 páginas estenografadas no método Gabelberger.
Nos seus anos em Göttingen, Husserl rascunhou as linhas gerais da fenomenologiacomo uma ciência filosófica universal. Seu princípio metodológico fundamental era o que chamou "redução fenomenológica". Preocupava-se com a experiência básica da consciência, não interpretada, e a questão do que é a essência das coisas, a "reducão eidética".
Por outro lado, é também a reflexão sobre as funções pelas quais as essências se tornam conscientes. Sob esse aspecto, a redução revela o Eu para o qual todas as coisas têm sentido. Assim, a fenomenologia assumiu o caráter de um novo estilo da filosofia transcendental, o qual repetia e aperfeiçoava, em uma maneira moderna, a mediação deKant entre o empirismo e o racionalismo.
Husserl apresentou seu programa e delineamento sistemático em Ideen zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Philosophie (1913; Idéias;Introdução geral à fenomenologia pura"), obra cuja segunda parte não pode completar devido a romper a Primeira Guerra Mundial. Husserl pretendia que esse trabalho fosse um manual de estudo para seus alunos, mas estes ficaram indiferentes. A maior parte deles considerou a virada de Husserl para a filosofia transcendental como um passo atrás, uma volta ao velho sistema de pensamento e o rejeitaram. Devido a essa reviravolta e à guerra, o movimento fenomenológico se desfez.
Sua posição junto aos colegas em Göttingen era sempre difícil. Sua nomeação para catedrático em 1906 havia resultado de uma decisão do ministro da educação contra a vontade do corpo de professores.
Assim, quando foi convidado em 1916 para catedrático na universidade de Freiburg, isto significou um novo começo para Husserl sob todos os aspectos. Sua aula inicial sobre Die reine Phänomenologie, ihr Forschungsgebiet und ihre Methode ("Fenomenologia pura, sua área de pesquisa e seu método") definia seu programa de trabalho.
Neste sentido ele havia lançado em suas aulas sobre Filosofia Primeira (1923-24) a tese de que a Fenomenologia, com seu método de redução, é o caminho para a absoluta justificação da vida, ou seja, para a realização da autonomia ética do homem.
Com essa tese, ele continuou a elucidação da relação entre a análise psicológica e a analise fenomenológica da consciência e sua pesquisa quanto ao embasamento da lógica, que ele publicou como Formale und transzendentale Logik: Versuch einer Kritik der logischen Vernunft (1929; Lógica formal e transcendental).
Reconhecimento vindo de fora não faltou. Em 1919 a Universidade de Bonn conferiu-lhe o título de Doutor honoris causa. Muitos visitantes estrangeiros compareciam aos seus seminários, entre eles Rudolf Carnap, figura de proa do Círculo de Vienna, onde nasceu o Positivismo lógico.
Fez palestras na Universidade de Londres (1922), na universidade de Amsterdã e, mais tarde, em 1930, na Sorbone. Deixou de aceitar um convite da prestigiosa universidade de Berlim a fim de poder dedicar todas as suas energias à Fenomenologia. Estas palestras foram aproveitadas em uma nova apresentação da Fenomenologia, que então apareceu com tradução francesa sob o título Méditations cartésiennes (1931).
Quando ele aposentou em 1928, Martin Heidegger, que haveria de tornar-se um expoente do existencialismo e um dos mais importantes filósofos alemães, foi seu sucessor. Husserl o havia considerado seu herdeiro legítimo. Somente mais tarde viu que a principal obra de Heidegger, Sein und Zeit ("O ser e o tempo"), de 1927, havia dado à Fenomenologia uma reviravolta que a levaria para um caminho totalmente diferente. Seu desapontamento fez que seu relacionamento com Heidegger esfriasse depois de 1930.
Com a chegada ao poder de Adolf Hitler em 1933 ele foi excluído da universidade. Porém recebia a visita de filósofos e intelectuais estrangeiros. Condenado ao silêncio na Alemanha, ele recebe, na primavera de 1935, um convite para falar para a Sociedade Cultural em Viena, onde discursou por duas horas e meia sobre Die Philosophie in der Krisis der europäischen Menschheit ("A filosofia na crise da humanidade européia ") palestra que repetiu dois depois. Desta conferência e de outras que fez em Praga surgiu seu último trabalho Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale Phänomenologie: Eine Einleitung in die phänomenologische Philosophie ("A crise da ciência européia e a fenomenologia transcendental: uma abordagem da filosofia fenomenológica"), de 1936, da qual somente a primeira parte veio a público em um periódico para emigrantes.
Enfermo a partir de 1937, disse desejar morrer de modo digno de um filósofo "Eu vivi como um filósofo - disse -, e eu quero morrer como um filósofo". Por não ser comprometido com nenhum credo em particular, ele respeitava toda crença religiosa autêntica.
Seu conceito de auto-responsailidade filosófica absoluta ficava perto do conceito protestante da liberdade do homem em sua relação imediata com Deus. Na verdade, é evidente que Husserl caracterizava a manutenção da redução fenomenológica não apenas como um método mas também como uma espécie de conversão religiosa. Ele morreu em abril de 1938 e suas cinzas foram enterradas no cemitério em Günterstal, perto de Freiburg.
FILOSOFIA
Husserl achava que os filósofos estavam complicando a teoria do conhecimento, em lugar de considerarem com objetividade o fenômeno da consciência como é experimentado pelo homem. O que importava, para ele, era o que se passava na experiência de consciência, através de uma descrição precisa do fenômeno. Por isso deu o nome de "fenomenologia" à sua teoria que deveria ser uma ciência puramente descritiva, para somente depois passar a uma teoria transcendental à experiência, o seja, para além do método cientifico.
As teorias do conhecimento de Descartes e de Kant tinham um defeito insanável, em seu entender. Era o fato de faltar qualquer certeza de que o que aparece na consciência correspondesse inteiramente ao real. O que havia era uma "pressuposição" de que aquilo que estava na consciência guardava relação de alguma sorte com os objetos correspondentes do mundo exterior. A filosofia, a mais fundamental das ciências, devia ficar livre de suposições. Pensar o mundo somente poderia ser feito depois de bem examinado como esse mundo é matéria no campo da consciência. Em sua opinião não adiantava em nada discutir uma teoria do conhecimento sem esse primeiro passo, pois o que tinha existência verdadeira e assegurada eram os fatos da consciência. Husserl colocaria qualquer problema filosófico tradicional entre aspas, para ser examinado somente após estar completa a descrição fenomenológica. A isto chamou criar uma "época" para a questão em exame.
Chamou "redução transcendental" a esta redução da coisa aos detalhes da sua apreensão como fenômeno da consciência propriamente; significava retirá-la de uma visão teórica, transcendente, para tomar conhecimento dela de modo preciso e objetivo, analítico, como simples experiência de consciência. No entanto, na primeira fase do desenvolvimento da sua doutrina, Husserl não partia daí para descrever o "Eu" ou o que a consciência era, mas sim para estudar as idéias, os vários tipos de idéias, como as cores, a superfície, etc.. A esse detalhamento das idéias que se juntam com outras idéias para formar a essência de cada coisa, deu o nome de "redução eidética" (idéia, imagem, forma). Com este procedimento queria chegar a uma metodologia perfeita para a filosofia, de modo a garantir a certeza absoluta, e buscou estudar o que John Locke já havia escrito a respeito. Somente mais tarde, no que foi considerada uma reviravolta em seu pensamento, Husserl passou ao estudo do Eu, do que existe no Eu que lhe faculta o conhecimento, o que foi considerado um retrocesso à filosofia transcendental de Kant. (Clique aqui em Fenomenologia, por favor, para encontrar um artigo nosso mais detalhado sobre o assunto.).
Rubem Queiroz Cobra
Doutor em Geologia e bacharel em Filosofia
Lançada em 18/06/2001

21 de junho de 2010

ALICE
LEWIS CARROLL – ( 1832- 1898)

Charles Lutwidge Dodgson estudou na Universidade de Oxford, onde, mais tarde, veio a lecionar. Diácono da Igreja Anglicana, seus interesses incluíam lógica, matemática, poesia, narrativa ficcional e fotografia. Como fotógrafo amador, fixou as imagens de vários contemporâneos, destacando-se por fotografar meninas. Uma de suas modelos, Alice Liddell, filha de um deão, inspirou-lhe a personagem de As aventuras de Alice no país das maravilhas e Alice no país dos espelho.

Gozando de sucesso imediato desde sua publicação, os dois livros constituem referência obrigatória na literatura ocidental. Sua obra, aparentemente destinada ao público infantil, vem sendo lida e interpretada ao longo dos anos, pois nela são abordadas questões psicológicas e de identidade sob a capa de aventuras fantásticas. O autor é considerado um dos pioneiros na pesquisa de novas ciências do discurso por meio da simbolização.
Obras principais: As aventuras de Alice no país da maravilhas, 1865; Alice no país do espelho, 1872
Referência: Masina, Léa, Guia de leituras, L&PM, POCKET, Porto ALEGRE, 2009.

24 de março de 2010

Quem faz e quem
deve fazer a política


Na Antigüidade



Platão, teórico da sociedade justa
Platão (427-347 a.C.)

Quem faz a Política?

Para Platão, como ele expôs detalhadamente no seu clássico sobre a política, denominado "A Republica"(Politéia), uma extraordinária exposição sobre o estado ideal, os regimes políticos existentes em qualquer época nada mais são senão expressões dos caracteres (ethos) humanos. Assim, por exemplo, o gosto pela ordem, pela hierarquia e tradição, sustenta a monarquia, enquanto o desejo de pertencer a um grupo exclusivo e a tendência de só a ele favorecer gera a oligarquia. Por outro lado, a inclinação egoísta que alguns têm à enriquecer e à amalhar tesouros é a base do regime timocrático, enquanto o pulsar do sentimento de fraternidade, igualdade e solidariedade, existente entre os homens, inspira-lhes o viver numa democracia. Finalmente, o temperamento colérico, raivoso e descontrolado de certas personalidades fortes, dá sustento à tirania. Logo, por detrás de tudo, de quem faz a política, nas suas mais variadas formas (monárquica, oligárquica, timocrática, democrática ou tirânica) é o Sentimento.
A relação entre os sentimentos e os regimes políticos

Sentimento Regime Político
Gosto pela ordem, pela hierarquia e tradição Monarquia
Tendência de pertencer a um grupo e a ele favorecer Oligarquia
Egoísmo, exclusivismo, gosto pela riqueza Timocracia
Fraternidade, igualdade, solidariedade Democracia
Cólera, raiva, fúria Tirania
Quem deve fazer a Política?

Exatamente por isso, pelo Sentimento (instável, volátil e inconstante) ser a base dos regimes políticos, é o que os levava a serem imperfeitos, geradores de turbulência e de guerras civis sem fim. É necessário pois opor-se-lhes com um outro tipo regime, no qual o calor dos Sentimentos deveria ceder aos traçados regulares da Inteligência. Um regime que procure a estabilidade perene, constituído ou modelado exclusivamente pela Razão (logos). Este novo sistema, por ele idealizado, seria sustentado, segundo Platão, por dois pilares: a Educação (paidéia) e a Justiça (dikê).

Educação (paidéia)

Por educação, ou melhor, por formação, entende-se a capacidade não só de encontrar na alma de cada cidadão quais suas reais capacidades, suas qualificações, como despertá-las, aperfeiçoa-las e conduzi-las ao bom caminho. Segundo Platão, todo homem nasce com uma alma (psique) divida em três partes: o apetite, a coragem e a razão, que, por sua vez, materializam-se nas virtudes da temperança, valor e sabedoria. Cabe ao educador (arconte-pedagogo) fazer desenvolver uma delas (que se sobrepões às demais) e orientar o indivíduo a ocupar o seu devido lugar na sociedade.


Aristóteles (384-322 a.C.)


Quem faz a Política?
No detalhado mas inacabado estudo que Aristóteles fez sobre mais de 150 constituições existentes na sua época, concluiu que as sociedades se organizam em regimes políticos que podem ser classificados de acordo com o número daqueles que exercem o mando na política. Quando, por exemplo, o poder encontra-se nas mãos de um só homem, o rei, que governa segundo a tradição e os costumes, teremos um regime monárquico. Se o regime for dos melhores dos seus cidadãos (aristós), temos uma aristocracia e, se o regime é de todos (demos), trata-se de uma Politéia (de uma república). Todos eles, entretanto, tendem inevitavelmente à perversão, à deturpação, provocando o surgimento de formas políticas bastardas, tais como a tirania, a oligarquia e a democracia. A tirania, corrupção da monarquia, é o governo de um só homem que governa discricionariamente, segundo seu humor e capricho. A oligarquia, deturpação da aristocracia, é o governo de um grupo que rege as coisas públicas atendendo apenas ao seu exclusivo interesse, e a democracia, decadência da Politéia, é o poder discricionário da multidão, que move uma perseguição aos ricos e a todos os que se lhe opõem.
Classificação dos regimes políticos segundo Aristóteles
Número dos
que governam Denominação
do regime Sua degradação é:
Um homem só Monarquia A Tirania
Um grupo seleto de homens Aristocracia A Oligarquia
Todos os homens Politéia A Democracia
Quem deve fazer a Política?

Assegurada a infra-estrutura da Polis (a cidade-estado grega) sendo ela auto-suficiente em alimentos, ter artífices capazes de fabricar instrumentos e armas para se defender, além de um tesouro próprio para assegurar suas necessidade internas e para outras emergências, ela deve ter também "meios para decidir as questões que envolvam interesses e direitos recíprocos dos cidadãos", isto é, ter instituições políticas.

O cidadão (Politéen)

Quem deve ser o cidadão (Politéen) para Aristóteles? Não todos, mas somente os homens absolutamente justos. Eles, esses poucos eleitos, não devem viver do trabalho trivial de artífices, muito menos do negócio (porque são atividades ignóbeis e incompatíveis com as qualidades morais de um cidadão virtuoso). Tampouco podem eles serem agricultores, pois esses vivem lavrando a terra sem terem tempo para o ócio necessário ao seu aprimoramento. Afinal, "o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidade morais e à prática das atividades políticas" ["Política", livro 8, cap.VIII, 1329 a].
A cidadania seletiva de Aristóteles

Desta forma, Aristóteles delimita a cidadania aos homens aquinhoados e aconselha a criação de instituições flexíveis que sejam capazes de articular os interesses da busca da felicidade por parte desses indivíduos abonados, com o bem-estar geral da coletividade. O poder deve ser exercido alternadamente entre as classes militares e as deliberativas (ou dos conselheiros) que, ao envelhecerem no serviço da comunidade, devem integrar as classes sacerdotais. Se Platão defendia um governo de filósofos, Aristóteles alargou um pouco mais a base da participação na direção política da cidade ideal, acolhendo no seu modelo um número bem mais amplo de gente. Abriu-o às pessoas cultivadas da sociedade. Nenhum dos dois, como se vê, foi favorável à democracia, isto é, à extensão da cidadania à totalidade dos homens livres da sociedade daquela época.
Na Idade Média

Desde a queda do Império Romano do Ocidente em 476 durante as invasões bárbaras do século V, a Igreja Católica viu seu poder crescer no vácuo deixado pela autoridade romana. No entanto, ela, a Igreja, força espiritual, moral, necessitava de proteção, do braço secular. Este lhe foi oferecido pelos reis e chefes bárbaros que se converteram ao cristianismo. Um deles, Carlos Magno (768-814), chegou a tentar restabelecer o poder Imperial no ano de 800, quando foi coroado em Roma, Imperador do Ocidente.
A política nos tempos medievais está circunscrita aos nobres, ao rei e aos sacerdotes, era uma arena exclusiva dos grandes.
Para Marcilio de Pádua, a fonte das instituições era o que ele denominou de o Legislador Humano, isto é, o corpo dos cidadãos livres que compõem um reino. Este legislador humano é representado pelas figuras mais expressivas (valentior pars) da sociedade, que, por sua volta, delegam a direção do governo a um príncipe. Este era um magistrado único, autoridade secular, que concentra em suas mãos a capacidade coercitiva e o exercício da autoridade. Não aceita a teoria da dualidade de poderes (um espiritual, e outro temporal), pois a vê nesta divisão um convite à dispersão, ao conflito de soberania, à guerra civil. O poder é um só e deve estar enfeixado nas mão do príncipe secular.
Fonte: historiador Voltaire Schiling